Calma, não estamos em perigo por enquanto, a possibilidade de um apocalipse zumbi é baixa, muito baixo, porém nesse mundo nada é impossível.
A ideia de zumbi que temos hoje, tem como principal marco o filme A Noite dos Mortos Vivos¹ do original “Night of the Living Dead” de 1968 escrito por John Russo e George A. Romero.
Na história, os mortos voltam à vida devido à radiação de um satélite que retornou de Vênus e se desintegrou na atmosfera da Terra e essa radiação causou uma reação biológica que reanima os mortos, transformando-os em zumbis famintos por carne humana.
RADIAÇÃO
A ideia de radiação como motor condutor para criação de monstros não é nova, um dos primeiros filmes a usar esse ideia foi “The Magnetic Monster” (1953) e logo em seguida “O Estranho de Um Mundo Perdido” (1956).
O que a ciência mostra hoje é que a radiação é mais destrutiva do que criativa. Um ser humano exposto a altos níveis de radiação pode vir a óbito em poucos dias e mesmo após a morte, não há relatos de pessoas que se levantaram com fome de carne humana, mas não podemos esquecer que a radiação é a responsável por trás dos mortos que voltaram a vida em “Night of the Living Dead” (1968), precursor desse gênero.
Então, ficamos de olho.
VÍRUS
Existem alguns vírus hoje, como o da raiva, que em teoria poderiam causar um apocalipse zumbi semelhante ao visto em filmes e séries. No entanto, com o advento das vacinas, ele está quase erradicado. Além disso, o longo período de incubação desses vírus (tempo que ele leva para causar a raiva) dificulta uma contaminação em grande escala, tornando um apocalipse zumbi altamente improvável na realidade.
No filme “World War Z” (2013), baseado no livro “World War Z: An Oral History of the Zombie War” (2006) de Max Brooks, a história gira em torno de um vírus não identificado que se espalha rapidamente, transformando as pessoas em seres extremamente violentos em questão de segundos.
Poderíamos dizer que isso alude a um “super vírus” da raiva, com uma taxa de incubação incrivelmente curta e efeitos devastadores, contrastando com a raiva real, que tem um período de incubação mais longo.
MUTAÇÃO GENÉTICA
As mutações genéticas são um componente essencial da evolução. Veja o exemplo do vírus HIV, que está em constante mutação, tornando quase impossível desenvolver uma cura definitiva até hoje.
Da mesma forma, a COVID-19 e outras gripes menos agressivas mostram como os vírus se adaptam para infectar humanos, algo que inicialmente só afetava animais.
Até o momento, não se tem relatos de mutações em vírus ou bactérias que possam causar um descontrole emocional, terminando em violência e fome de carne humana, porém não há nada na ciência que diga não ser possível.
BACTÉRIAS
As bactérias, às vezes resistentes aos antibióticos pelo seu uso indiscriminado levou o surgimento de “super bactérias”, porém elas não tem ressuscitado mortos por enquanto.
Existem, sim, bactérias extremamente nocivas aos humanos como a Salmonela que com alguma frequência leve toda uma festa de casamento ou 15 anos para hospital e as mais nocivas que podem levar à morte em poucos dias, no entanto, uma vez que a morte ocorra devido a essas infecções, a pessoa segue morta.
FUNGOS
Embora pareçam perigosos, precisamos lembrar que são extremamente frágeis e perecem com facilidade.
O fungo apresentado na série “The Last Of Us” (2023), baseada em um jogo de mesmo nome, teria sofrido uma mutação (olha a evolução e adaptação que falamos anteriormente) para sobreviver em corpos mais quentes, pois, em geral, fungos não sobrevivem em temperaturas elevadas.
O fungo em questão na série é o Cordyceps, que afeta principalmente insetos, como formigas e lagartas. Ele é famoso por controlar o comportamento de suas vítimas, fazendo com que elas se comportem de maneiras estranhas antes de morreram, assim permitindo que o fungo cresça e libere seus esporos para infectar novas vítimas.
Outro exemplo desse mesmo comportamento é causado pelo Ophiocordyceps unilateralis, que infecta formigas.
Existem alguns fungos que afetam os humanos como:
- Candida albicans: afeta a pele, mucosas e órgãos internos, especialmente em pessoas com imunidade comprometida;
- Aspergillus fumigatus: responsável pela aspergilose, uma infecção pulmonar que pode ser grave em indivíduos com sistema imunológico enfraquecido;
- Cryptococcus neoformans: pode causar infecções graves, especialmente em pessoas com imunidade baixa, afetando o cérebro e causando meningite;
- Histoplasma capsulatum: causa histoplasmose, uma infecção respiratória que pode ser grave em casos severos;
- Blastomyces dermatitidis: responsável pela blastomicose, uma infecção que pode afetar a pele e os pulmões.
Esses são alguns exemplos de fungos que geralmente afetam a pele, mucosas e pulmões e em alguns casos, podem levar ao óbito, mas nenhum deles traz os falecidos de volta à vida.
Na série “The Walking Dead” (2010) e seus vários spin-offs, nunca foi revelado ao público a causa exata da epidemia. Apenas sabemos que todos estão contaminados e ao morrerem, independente da causa, se transformam em zumbis.
Também é mostrado que o patógeno reinicia o cérebro da pessoa morta, mas apenas as funções básicas, como andar, enxergar e se alimentar. Por isso, os zumbis comem humanos e animais, não por preferência específica, mas por instinto de sobrevivência, pois o patógeno para se manter vivo, precisa manter o hospedeiro (no caso os humanos) vivo. Na trama, esse patógeno parecer atacar apenas as pessoas, pois a série não mostra animais infectados.
Em 2020, Robert Kirkman, criador dos quadrinhos que originaram a série, mencionou em seu Twitter/X que os zumbis eram causados por “Esporos Espaciais”. Na época, o público ficou dividido sobre se isso era real ou uma brincadeira, pois ele não comentou mais nada a respeito.
Esporos são liberados por fungos, então essa afirmação sugere que um fungo vindo do espaço contaminou a humanidade e criou zumbis, então, voltamos a “Night of the Living Dead” (1968), em que um satélite caído do espaço causou a ressurreição dos mortos devido à radiação.
Mesmo com a estimativa de que existam cerca de 1,5 milhão de espécies de fungos no planeta, e pouco mais de 70.000 espécies oficialmente descritas e catalogadas, não há nenhum indício de que um fungo possa causar um evento desse tipo.
CRIAÇÃO EM LABORATÓRIO
Dentro de todas as alternativas anteriores, essa parece a mais promissora.
Hoje, por exemplo, usamos um vírus vetor (adenovírus), criado em laboratório, no desenvolvimento e produção de vacinas.
O vírus vetor (adenovírus) entra em nosso DNA e adiciona uma informação para que o nosso sistema imunológico saiba lidar com determinada doença, por isso, muitos especialistas acreditam que, por se tratar de uma “edição do DNA”, existe a possibilidade de que a imunidade, adquirida via vacina, seja passada aos descendentes do vacinado.
O exemplo mais recente desse uso em vacinas é o da COVID-19, com as vacinas AstraZeneca/Oxford (AZD1222) e Johnson & Johnson (Janssen), desenvolvidas a partir do sistema de vírus vetor. Ambas utilizam um vírus modificado que não pode causar doença, mas que entrega o material genético do SARS-CoV-2 para as células do corpo, estimulando uma resposta imunológica.
Essa é a premissa do filme “Eu Sou a Lenda” (2007), a terceira adaptação do livro de Richard Matheson de 1964. Nele, um cientista cria a cura do câncer, alcançando 100% de eficácia via um vírus vetor que ensina o corpo a erradicar a doença.
No entanto, como efeito colateral, a cura matou a maioria da humanidade e transformou os sobreviventes em zumbis sensíveis à luz.
Curiosamente, a ciência parece imitar a ficção científica, pois em 2023, um homem no Brasil foi curado de um câncer em metástase mediante um processo semelhante.
Células T, parte do sistema imunológico, foram coletadas e geneticamente editadas (via DNA) para reconhecerem células cancerígenas com mais facilidade. Essas células foram replicadas em grandes quantidades e injetadas no paciente, resultando na remissão total do câncer.
Esse tratamento foi realizado pela primeira vez em 2019 para outro tipo de câncer, também obtendo 100% de cura, porém o paciente faleceu pouco tempo depois em um acidente doméstico e pelo que se sabe o momento, permanece morto.
AQUECIMENTO GLOBAL
Atualmente, vivemos um descontrole climático causado pelo homem e por seu pouco interesse com a preservação ambiental.
O mundo está aquecendo em uma velocidade nunca vista, e áreas que estiveram sob o gelo por milhares de anos estão começando a descongelar e com isso, não temos a menor ideia de que vírus, bactérias ou fungos podem emergir e voltar à vida e nem como eles afetariam a vida humana, pois não estávamos lá quando surgiram.
Em outras palavras, não temos ideia nem proteção contra o que pode estar nas camadas de gelo e entre essas possibilidades, pode haver algo potencialmente apocalíptico.
Resumindo: estamos realmente muito longe de vivermos um apocalipse zumbi ou nesses mesmo modelo e contexto, porém devemos ficar sempre de olho, porque assim como uma pandemia global de COVID-19 não era nem de longe cogitado aconteceu, vai saber o que nos esperar no futuro. 😉
EXTRAS
1 – A Noite dos Mortos Vivos (1968)-Completo
2 – Remake de A Noite dos Mortos Vivos (1990)-Completo
3 – Livro: Eu sou a lenda (1954) de Richard Matheson para Kindle ou em papel na Amazon-https://amzn.to/3NL6dOv
4 – Onde assistir ou alugar “Eu Sou a Lenda” (2007)–https://www.justwatch.com/br/filme/eu-sou-a-lenda